domingo, 30 de janeiro de 2011

(Be)atriz²

Trecho do texto teatral (Be)atriz², o qual realizei a dramaturgia livremente inspirado na obra de Chico Buarque de Hollanda. Estréia prevista para junho de 2011 em Florianópolis.

(Be)atriz – Nunca mais... Nunca. Nunca é tarde, nunca é demais para se dizer... (Cantarola.) Nunca mais vai beber minhas lágrimas, não vai não... Ali quem sabe deixei a fatia mais doce da minha vida. Ali, na mesa dos homens de vida vazia. Mas precisava de outra luz, outro foco. Pensava eu que deveria haver algum lugar, um confuso casarão, onde seriam os sonhos reais e a vida não. Sabia que nada é pra já, que não vale à pena se afobar por amor. Afinal, amores serão sempre amáveis! Mas não adiantava. Preferi dar ouvidos ao passarinho que me cantava a vinda de bom tempo. (Muda o tom. Como se pudesse quase tocar o seu amante sem o mesmo estar ali.) Acreditei na ave-oráculo e passei a te buscar. Corria contra o tempo, rodava as horas pra trás, roubava um pouquinho e ajeitava o meu caminho pra encostar no teu. Eu surpreendia o sol antes do sol raiar, saltando noites sem me refazer. Eis que numa delas, pela porta de trás de uma casa vazia e um tanto soturna, tu ingressarias e me verias confusa por te ver. Foi entrando, me iluminando, não iluminando um atalho sequer. E chegando assim, mil dias antes de me conhecer, passou a ver-me com meus olhos e eu com os teus passei a ver-te. Meu namorado, minha morada.


A história de Lily Braun - Edu Lobo e Chico Buarque