segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

In memorian


restarei-me presente
não em corpo ao certo
afônico, fora de foco
num sonho de memórias

será bom ver-te livre
sem tocar-te o sereno
sem sombra de dúvidas
com as sobras de mim

não arrependa-se agora
viva a tua imortalidade
transcreva nossa cólera
vindo a lágrima, chora

diga sim a um bom homem
com status, culto, belo
que te carregue na mala
que ante a tela se cale

releve o que diz o Papa
a morte jamais separará
torna-nos pó, nada mais
fissão é ofício da vida

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Quédese


paixão
sacada
janela
parede






janela
parede




janela
parede




janela
parede



janela
parede


janela
parede

janela
parede
 chão
pedras

 a
  r
   t
    e
     s
perdas
sangue
caixão


A bela e a fera by Chico Buarque on Grooveshark

sábado, 15 de dezembro de 2012

Última



                                            não pense no fim




                                 há um novo começo





entre eu e mim



Bifurcação


agora e além resta o lado oposto
no dicionário secaram os verbetes
esgotaram-se as letras da cartilha
só há tua voz na minha cabeça oca

vejo desesperança em tons de sépia
tua imagem no fotograma se esvaindo
a barba cresce, sono fenece, eu já
não passo mais impune ao teu nome

minta à vontade, beba sem prudência
com sua paciência esfregue o chão
eu sou um roto. se amo, amo direito
nasci com defeito, acho que vou chorar

sofro de analfabestimo sentimental
tenho coração disléxico, disrítmico
pulso em contratempo, finjo como poeta
medito, rogo, pareço valente e não sou


  Vive by Maria Bethânia on Grooveshark

domingo, 9 de dezembro de 2012

Fútil

A máscara é depois do corpo
Omissão é mãe da mentirinha
Que tem irmã desconfiadíssima
Que aparenta ser, mas só parece

Parente, se aparece, é pra esmolar
São daquelas baratas de lixo orgânico
Numa versão piorada, decadente
Falam e cagam na sua privacidade

Futilidade é perfume importado
De um beco qualquer do errejota
Bate no nariz e não nos olhos
Por isso nunca almeje escondê-la

Pão de açúcar, Lapa de ureia
Capa de livro não é conteúdo
Posso mudar, emudecer, mas sou
Ficar calado por vezes é um dom

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Averbação


acontece que eu sou um passional
veias salientes por latejar carinho
mente que pensa muito mais que vive
e então adoece por não saber sentir

por vezes presente, outras insolente
sempre transbordando, nunca derramado
imperfeito confesso, romântico crônico
alérgico ao idealismo dos falsários

apenas a alta madrugada sabe-me bem
poesia não me revela, me eleva, releva
jogo com palavras, jamais com a vida
se convido é convicto, pra convivência

meu equilíbrio é precário, a dor real
ciúme já não é substantivo o bastante
eu sou assim, Dezembro o coletivo de fim
você um pronome de proximidade distante