terça-feira, 15 de janeiro de 2013

R.E.M.


a insônia é uma dama
ébria, louca e linda
chega da rua faminta
por carne e palavras

propõe singelas trocas
das noites por manhãs
do sono pela vigília
da penumbra pela luz

atiça meu eu-onírico
pôs-me você no sonho
te vi nua como nunca
perfeita como sempre

feliz como te almejo
banhava-se com outro
a insônia é o alarme
de acordar realidades

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Lucky


trago o habitual cigarro
vejo o amor na fumaça
tão leve quanto letal
num sopro vai pelo ar

principia como o fogo
arde ao sugar a vida
acaba torto em cinzas
vicia sem nem avisar

na caixa nos advertem
fumar causa sofrimento
tristeza, dor e morte
amar causa a indústria

incita-nos o isqueiro
abarrota os cinzeiros
vai um, vem o próximo
amor é apenas cigarro

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Rio


há entre nós um rio
de janeiro, capital
não verte água doce
está cheio de vazio

não é o rio de riso
margeia a desilusão
sem o curso preciso
demarca a distância

é uma veia dolorida
agitada, pululante
que o poeta bombeia
no coração de tinta

tem na foz a emoção
alarga-se dia a dia
quer ser rio-oceano
separando o tu e eu

Blackout


O ator é um fugitivo
Corre para as coxias
Abandona personas
Máscaras, mentiras

Deixa nu o proscênio
Eis o fim da ilusão,
do tormento em show
Cai o pano, sobe a vida

Nada lhe pertenceu
Despe-se do figurino
Põe um trapo qualquer
Desmonta o cenário

Arranca sua juventude
com algodão embebido
Frente ao velho espelho
mostra suas cicatrizes

Engenheiro sentimental
Calcula todos friamente
Paixão, ódio, desamor
No fim, resta-lhe o medo

Falseará uma vez mais?
Responderá as deixas?
Pagarão em cachê ou queixas?
Aplaudirão sinceros ou forçosos?

Repentinamente trevas, blackout
Silêncio de perfurar os ouvidos
Um exército de cadeiras revela-se
Imóveis, críticas, rigídas, blasés

Debulha em suor no tablado
Sente o corte no pé direito
Tudo não passou de um ensaio
Textos no palco, cenas na vida