não importa o nome ou endereço
apenas o que vejo, penso, sinto
há tempos o peito não explodia
há tempos não mergulhava assim
de bater cabeça na pedra, pois é
és água dura, pedra mole, papel
tesoura, pau, pedra, fim do caminho
tanto bate que fura meu silêncio
vaza sangue, lágrima, suor, berro
você não quer e eu finjo desdém
odeio teu vaivém, te amo pro além
és vinho, tinto seco, muito tânico
não dá sopa, creme, colher de chá
eu adolesço, adoeço, amargo, adoço
vejo foto, tenho um troço, és linda
a mais do mundo, minha, dele, daquele
eles te querem sim, só eu te mereço
estou piegas,
non sense, ridículo
(ainda bem, ainda bem, ainda bem)
te levo comigo pra cima e pra baixo
te elevo na falta de ar, no suspiro
há tempos não escrevia tão ofegante
há tempos não morria de amor todo dia
há tempos não vivia de torpor na noite
o tempo que não passa pra te ver, ter
não para se estás, não verte ou inverte
o tempo que não nasceu e é pra sempre
que não rima com nada e versa com tudo
que se esvai e nos carregará separados
você vai no seu tempo, eu no meu te levo
sem mentira, na mente, alma, pele e corpo
até o último dilatar de púpilas a projetar
o curta-metragem da vida não vivida contigo
na sorte da morte indolor, precisa, súbita
o tempo...
se errado no verbo do poema, é problema
se certeiro na morte do poeta é dádiva, auge
sou grato por cumprires teu papel nessa fita
vivendo nos poemas de ausência,
morrendo num cinema de presença
the end