sexta-feira, 20 de maio de 2011

POR QUE O MAR TANTO CHORA

COM BASE NO CONTO ABAIXO COMPUS A MÚSICA MAIS ABAIXO AINDA.

Era uma vez uma rainha que estava casada havia muito tempo e nunca tivera um filho. “Meu Deus, permita que eu engravide, nem que seja para dar à luz uma serpente”, ela rezava noite e dia. Até que por fim Deus ouviu sua prece e lhe concedeu uma filha, que nasceu com uma cobra enrolada no pescoço.

A princesinha recebeu o nome de Maria e, assim que aprendeu a falar, chamou a cobra de Dona Labismina. As duas eram grandes amigas. Passeava muito pela praia, nadavam juntas, brincavam. Às vezes Maria deixava Dona Labismina mergulhar sozinha, mas, se ela demorava a voltar, punha-se a chorar em grande aflição.

Um dia a cobra entrou no mar e desapareceu. Antes, porém, disse a princesa que, se estivesse em perigo, bastaria chamá-la.

Anos depois a rainha de um país vizinho adoeceu. Quando estava prestes a morrer, tirou um anel do dedo e o entregou ao rei, seu marido, dizendo-lhe: “Se você se casar de novo, escolha uma princesa em cujo dedo caiba este anel direitinho”.

Tão logo ficou viúvo, o rei, que era um homem velho, feio e rabugento, resolveu procurar uma noiva. Mandou o anel para todas as princesas do mundo experimentarem, e ele não coube em nenhum dedo.

Então descobriu que uma princesa ainda não o experimentara: Maria. Foi visitá-la em seu palácio e sem a menor dificuldade colocou-lhe o anel no dedo. Maria não queria se casar com aquele homem horroroso, mas seus pais exultaram, pois o viúvo era imensamente rico.

O casamento foi marcado para breve. A pobre noiva, desesperada, chorou dias a fio, até que se lembrou do que Dona Labismina lhe dissera ao se despedir. Foi então para a praia, chamou sua fiel amiga e lhe contou o que estava acontecendo. “Não se preocupe”, a cobra falou. “Diga ao rei que só se casara com ele se lhe der um vestido da cor da mata com todas as flores”.

Maria fez exatamente como Dona Labismina lhe recomendou. O velho ficou muito aborrecido, mas como estava encantado com a beleza da noiva, prometeu que lhe daria o tal vestido. Demorou bastante tempo, porém acabou cumprindo a palavra.

“E agora, o que vou fazer?”, a princesa perguntou a cobra. “Diga-lhe que só se casara com ele se lhe der um vestido da cor do mar com todos os peixes”, respondeu a boa amiga.

O rei se aborreceu ainda mais, porém fez de tudo para atender a exigência da noiva. E lá se foi Maria novamente pedir Socorro à Dona Labismina. “Diga-lhe que só se casara com ele se lhe der um vestido da cor do céu com todas as estrelas”, recomendou a cobra.

Ao tomar conhecimento desse novo capricho, o rei ficou terrivelmente irritado, mas, como nas outras vezes, prometeu satisfazê-lo e não deixou de cumprir a promessa.

Desesperada, a princesa correu para a praia, onde sua fiel amiga já a esperava, com um barco a postos. “Fuja, depressa!”, disse-lhe Dona Labismina. “Este barco a levará para um reino distante, onde você se casará com o filho do rei. No dia de seu casamento, vá até a praia e me chame três vezes, para que meu encantamento se rompa e eu também seja princesa.

Maria partiu e, conforme a cobra informara, foi ter a um reino distante. Sem recursos para se manter, dirigiu-se ao palácio e pediu emprego. Encarregaram-na de cuidar do galinheiro.

Pouco depois realizou-se na cidade uma grande festa anual, que durava três dias. A família real e os fidalgos da corte saíram para festejar com o povo. Maria recebeu ordens de ficar com as galinhas, porém, assim que se viu sozinha, pôs seu vestido da cor da mata com todas as flores, pediu a Dona Labismina uma linda carruagem e também foi a festa.

Todas que a viram se maravilharam com sua beleza, principalmente o filho do rei, mas ninguém a reconheceu. Maria se divertiu por algumas horas e voltou para o palácio. Estava em seu carro, toda esfarrapada, quando o príncipe chegou. “Você viu aquela beldade?”, o rapaz perguntou à mãe, ao descer da carruagem. “Não acha que se parecia com a moça que cuida de nosso galinheiro?”. A rainha franziu a testa, surpresa: “Imagine! A moça do galinheiro vive suja e maltrapilha…”.

O príncipe deixou os pais entrarem e foi falar com Maria. “Hoje vi lá na festa uma jovem muito parecida com você…” Corando até a alma, a pobrezinha murmurou: “Por favor, Alteza, não zombe de mim!”.

No dia seguinte, depois que todos saíram, Maria pôs seu vestido da cor do mar com todos os peixes e foi se divertir um pouco. Perdidamente apaixonado, o filho do rei perguntou a uns e outros quem era aquela beleza, mas ninguém soube lhe dizer.

No terceiro dia de festa Maria usou seu vestido da cor do céu com todas as estrelas e, quando ia se retirar, recebeu do príncipe uma jóia.

Encerrados os festejos, o filho do rei caiu numa tristeza de dar pena. Passava o tempo todo na cama, suspirando, e se recusava a comer. Sem saber mais o que fazer, a rainha ordenou a moça do galinheiro que preparasse uma canja suculenta. Maria obedeceu sem pestanejar e, antes de mandar a tigela de canja para o príncipe, colocou dentro o presente que ele lhe dera. Ao tomar a primeira colherada, o rapaz encontrou a jóia e saltou da cama, gritando: “Estou curado! Minha amada é a moça do galinheiro!”.

A rainha chamou Maria, que se apresentou usando o vestido da cor do céu e naquele mesmo dia se casou com o príncipe.

Zonza de felicidade, a jovem se esqueceu de ir até a praia e chamar três vezes por sua fiel amiga. Assim, Dona Labismina nunca se libertou de seu encantamento, e é por isso que o mar tanto chora.

Extraído do livro de Neil Phillip, Volta ao mundo em 52 histórias.


MARACATU DE MAR E MARIA


MARIA DA PRAGA, TUA PAGA RASTEJA,

TEU COLAR DE COBRA, TEU BEM SERPENTEIA

PRECISA É TUA FORMA, PRECIOSA PRINCESA,

SE PREZA NA PROSA, DESPREZA A REALEZA

TEU PREÇO É SER PRESA

TE PESA A LEVEZA

NO PRAZO DO PASSO DA PRESSA


É LAMBISGÓIA, LABISMINA, ESSA MENINA SERPENTINA

LAMPARINA QUE ILUMINA O TEU NINAR

SE É PINEL, FIEL, JIBÓIA, É CASCAVEL, DO ANEL A NÓIA,

DA TRAMÓIA DE VESTIR COM CÉU E MAR

MARIA QUE DISTANCIA TOMARIA

PRA FICAR EM CALMARIA

RESOLVEU SE TRANSFORMAR

NO ATO IMPRIMIU A MATA EM MANTO,

FOI PRO CÉU UM ACALANTO,

MORADIA PARA O MAR


MARIA QUE UM DIA AMARIA,

QUE ALEGRIA RIMARIA

FINALMENTE COM AMAR.

NA DATA ESQUECEU-SE DO CONTRATO,

NÃO COBROU A COBRA O TRATO,

NASCEU O PRANTO DO MAR


Maracatu do mar e Maria - Mário César

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Rimasopomuximebacabazem

Em meados de 2007, eu cursava a sétima fase do curso de Artes Cênicas. Numa das disciplinas (Estágio III) havíamos de ministrar uma oficina de teatro em alguma instituição de ensino regida pela prefeitura municipal. Resolvi me unir à Kamila Debortoli para que oferecêssemos a oficina em dupla. Pautamos nossa oficina com base em experimentos de jogos e técnicas teatrais engendradas pelo encenador, dramaturgo e estudioso do teatro, Augusto Boal, em seu Teatro do Oprimido. Boal era brasileiro. Desses que conquistou mais fama lá do que cá. Foi pra ele que Chico Buarque compôs ao lado de Francis Hime a carta-canção "Meu caro amigo", nos tempos em que Boal "curtia" o exílio no exterior.
Utilizamos ainda três contos do livro Volta ao mundo em 52 histórias de Neil Phillip, para que o grupo de 21 crianças se subdividisse em três, os quais interpretariam as narrativas em sala. Fiquei encarregado de rechear as histórias de elementos sonoros e musicalidade. Num dos exercícios solicitei que, de mãos dadas, fizéssemos uma roda e que partindo de mim e chegando ao último integrante da mesma, cada um falasse uma letra do alfabeto, sendo que para uma consoante, outra vogal. Ao completar o exercício obtemos a palavra RIMASOPOMUXIMEBACABAZEM. Alguns dias depois, inspirado em um dos contos selecionados, na palavra e no processo de trabalho compus a canção homônima.
Hoje, quatro anos após o acontecido, estou bolando um espetáculo de contação de estórias com o nome provisório de Pra relembrar o que não aconteceu. Um dos contos integrantes é o que me inspirou a canção que também fará parte da cena. Abaixo, a letra e a canção.

Rimasopomuximebacabazem - Mário César

Volta, reviravolta o mundo dá

Chance de ser grande o que pequeno está

Saindo do casulo, sendo livre pra voar

Enfrentando problemas que se tem que enfrentar


Transformando a prosa em verso

Nesse mundo controverso

Onde o menor é grande e o pequeno é maior, oiá

Pra que nada nos oprima

Nossa palavra nos aproxima

E começa com rima nossa liberdade, aiê

RIMASOPOMUXIMEBACABAZEM, oiê


segunda-feira, 9 de maio de 2011

Notas?

Farto da falta
me calo na cota
te noto na nota
do afinador

Fardo de falha
me loca na toca
te toco de fato
tô afim na dor

Farda de farpa
me cola no coto
te taco no fogo
e há fina dor

Furto de farsa
me coca no colo
te cato no solo
e afina a dor

Forte na farra
me cuco in loco
te mato na sala
e há fim na dor