sábado, 26 de março de 2011

TER TU E TER

Ah esse desejo de te ver!
Te ter, te ler, te querer só pra mim.
Imprime alento ao meu viver e eu penso em te
reescrever pra te reter em meu nanquim.

Rimar teu eu com o meu, juntar os lápis enfim.
Sem borracha, sem rachar, sem graça ou vergonha na cara.

Cá do canto em canto desencanto, eu desando,
eu tenho andado caçando um bocado, um pecado, um dado teu.
Cara a cara, a caráter ou caracteres,
se mulher me feres, me malmequeres, eu só quero te querer.

E ter tu.
E ter tu.
E ter tu e ter...


Inspirada nas grandes canções melancólicas de antigamente.

Ter tu e ter - Mário César

segunda-feira, 7 de março de 2011

O LIVRO DAS (DUAS) FACES

Ando às voltas com a criação novamente. Desta vez um roteiro cinematográfico. De temática romântica, ainda não decidi a qual gênero pertencerá. Vejamos. Drama romântico? Já criei uma trilogia destes. Remakes estão descartados. No mais, me renderiam no máximo alguma exibição apenas aos sábados à tarde. Não. Preciso de algo mais leve pra não cair na rotina. Uma comédia romântica seria arriscar demais? Tá certo que amor quando levado muito a sério tende a ficar burocrático e dá sono. Também é verdade que a risibilidade dá ao amor contornos agradáveis e que o amar bem-humorado rende ótimas lembranças em flashback. Mas explorar a condição flatulante da mocinha ou uma contusão durante o ato sexual não seria um certo exagero? Romance policial. Cenas calientes, beirando o sado-masoquismo, submissão e outras mais. Uma pitada de loucura, sessões de análise, alguns tiros, cicatrizes, possíveis cenas de luta... Acabo de lembrar. Minha última tentativa nesse ramo rendeu-me um assento no banco dos réus. Melhor não. Quem sabe deixar de lado a questão de gênero nesse momento seja um modo de esfriar a cabeça. Pensemos acerca da duração. Curta-metragem: Somente contemplaria um fato, passagem ou faria um resumo assimmeioenpassant de um caso de final de semana ou final de balada. É melhor que um vídeo cômico postado no YouTube, mas ainda não o suficiente pra minha prolixidade em termos de roteiro. Média-metragem: Apenas estenderia o caso de um final de semana pra um amor de verão. Cá pra nós, de romances medíocres o cinema está cheio (não me refiro aos que se desdobram na sala às escuras). Longa-metragem: Abre a possibilidade de um desenvolvimento mais orgânico do roteiro. Poderia conter um prólogo, divisão por capítulos e, ainda que tivesse um final, um epílogo sempre seria bem-vindo. A questão é que mesmo o epílogo tem seu fim. Os créditos que contemplam a ficha técnica tem também. Meu roteiro descarta, por ora, a necessidade de um final por ele imposto. Analisando por este ângulo e voltando a questão do gênero não seria de todo ruim uma cinebiografia romântica. Será que alguém já tentou algo nessa linha? Não importa. Cinebiografias teimam em ultraromantizarem uma história - ainda que já sejam românticas - e estão sempre em busca de um martir ou herói. Preciso de algo mais realístico. Algo que transforme amor platônico em fato, que não seja tão sério como um drama, tão patético como uma comédia, que flerte um pouco com a fantasia mas não tão alienador e que seja um registro fiel às memórias (sejam elas boas ou não). Algo como um documento que não precisa ser carimbado e que não soe como pacto. Um documento? Um documentário! Que não necessite de final, pra dar um tom ainda mais original às cenas. Que dispense grandes elencos tomando-o como opção. Que me tenha como personagem. Porque não? Seremos eu, a câmera e uma boa história. Por ser um documentário-romance (ou romance-documentado?) preciso de um par romântico pra começar a arquiterar o roteiro. É isso. Começo daqui.

(Quarto de casa. Luz acesa. Madrugada. Ao som de um soft rock ele busca inspriração para seu mais novo romance. Ou melhor, documentário-romance. Coloca algumas idéias na tela de um computador. Bebe um gole do café já frio. Perpassa os olhos na TV que transmite seu seriado favorito em modo mudo pra não concorrer com a música. Volta a olhar o computador. www.umaredesocialfamosa.com, login, senha. Vê no site a foto de uma mulher que lhe chama atenção. Mensagem instantânea. Marcam um encontro. Chaves do carro numa mão, câmera na outra. Sai apressado deixando tudo pra trás. Os atores do seriado clamando voz, os músicos silêncio, o café ser sorvido...

America - Tin Man